terça-feira, 5 de julho de 2011

HEMINGWAY E O SHERIFF

Há uma coluna no suplemento “Segundo Caderno” do jornal O Globo chamada “Há 50 anos”. Nela, são publicados trechos de notícias importantes ou pitorescas que, como o nome da coluna sugere, foram manchete há cinquenta anos.

No último domingo foi publicada a manchete “ERNEST HEMINGWAY MATOU-SE ACIDENTALMENTE COM UM TIRO”. Leiam a manchete e prestem atenção no cargo ocupado por um tal de Frank Hewett:


Pois é, há apenas cinquenta anos o hoje muito comum “xerife” ainda era um sheriff. Acontece que não há no Brasil uma figura equivalente ao sheriff americano, o mais próximo talvez seja o delegado de polícia... Quando será que o sheriff se tornou tão corrente a ponto de merecer um aportuguesamento? Será que os filmes e seriados de TV de faroeste (far west) ajudaram?
Atualmente, contudo, o aportuguesamento de palavras estrangeiras parece estar em ritmo acelerado, principalmente em razão da intensidade com que a tecnologia entrou em nossas vidas. A 5ª edição do dicionário Aurélio, por exemplo, já traz os verbetes “blogar” e “tuitar”. Mas... cuidado! Na hora de traduzir, é melhor não nos empolgarmos demais ou corremos o risco de escrever bizarrices como a que lemos outro dia: o sujeito não ia “começar” ou “iniciar”, mas sim startar um projeto... 

E só para concluir o caso de nosso estimado escritor “extinto”, famoso por “seus livros sobre morte e violência”, vejam a notícia que foi publicada no dia seguinte:


Infelizmente, esse Jorge Ros estava coberto de razão, Hemingway realmente cometeu suicídio. Mas acredita-se que uma série de fatores, além do câncer, levaram-no a dar um tiro na cabeça. O autor de “O Velho e o Mar” também sofria de depressão, alcoolismo, perda de visão e paranoia (foi inclusive submetido a terapia com eletrochoques nas tais “Clínicas Mayo”).
A versão oficial do “acidente”, contudo, foi sustentada por cinco anos, até que sua viúva finalmente admitiu publicamente o suicídio.

Assim, em homenagem ao ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, uma pequena oração para vocês traduzirem:

Our nada who art in nada, nada be thy name thy kingdom nada thy will be nada in nada as it is in nada. Give us this nada our daily nada and nada us our nada as we nada our nadas and nada us not into nada but deliver us from nada; pues nada. Hail nothing full of nothing, nothing is with thee.”

 Do conto A clean, well-lightened place,
escrito por Ernest Hemingway,
publicado em 1926.

3 comentários:

  1. Caraca, desisto. Esta oração, só com legendas embaixo :-)

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  2. Luiz, você percebeu que a oração nada mais é que o "Pai Nosso" (Our Father, ou Lord's Prayer), onde várias palavras foram substituídas pela palavra espanhola "nada"? O último período é o início da "Ave Maria" (Hail Mary), mas neste caso Hemingway usou o inglês mesmo, "nothing". Existe uma tradução para o português deste conto publicada pela Editora Bertrand Brasil. Está no livro "Ernest Hemingway - Contos - volume 2". Abraços!

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  3. Legal! O uso do nada em espanhol (poderia ser também em português) eu tinha percebido, mas a correlação com o Pai Nosso e a Ave Maria, realmente, não me ocorreu. Acho que mais por deficiência religiosa que vernacular:-)

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