terça-feira, 15 de novembro de 2011

DESAFIO INTERESSANTE

Vejam essa tirinha do do Boné(Andy Capp), do Reg Smythe:


O desafio de hoje é traduzir o diálogo levando em consideração o duplo sentido do substantivo interest.

O vencedor, como já sabem, tem a resposta publicada aqui no blog, com o devido crédito.

Boa sorte!


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DÍVIDA nº 2

Nossa dívida nº 2 é para com o Dia do Tradutor, comemorado em 30 de setembro.

Pensando em algo legal para escrever a respeito desse dia, decidimos que o melhor mesmo é lembrar algumas palavras do Paulo Rónai, tiradas do livro “A Tradução Vivida” (2ª edição, Ed. Nova Fronteira, 1981).


Nesse livro, Rónai argumenta que a “bagagem” de um tradutor deve possuir quatro requisitos indispensáveis:

1)      O “conhecimento profundo da sua língua materna, para a qual ele traduz” (pág. 27);
2)      A “posse pelo menos razoável do idioma-fonte” (pág. 29);
3)      O ‘bom senso” (segundo ele, talvez o “componente mais indispensável de sua aparelhagem” – pág. 29);
4)      Uma “cultura geral que lhe possibilite identificar os lugares-comuns da civilização” (pág. 29).

Mas, pergunta Rónai, isso tudo “não é exigência demais em se tratando de ofício comumente mal pago e pouco prestigiado”?

E ele conclui: “[N]ão obstante a remuneração insuficiente ou nula, muitos grandes escritores de todos os tempos empreenderam trabalhos de tradução muitas vezes com prejuízo da própria obra. Evidentemente o ofício deve oferecer compensações outras que não as financeiras. Se o trabalho não trouxesse em si mesmo o seu prêmio, Goethe não teria vertido Diderot para o alemão, Mérimée não se haveria empenhado em introduzir os clássicos russos na França, Baudelaire não se houvera debruçado meses a fio sobre as novelas de Edgar Allan Poe, Rilke não transporia Valéry em sua própria língua. Na realidade a tradução é o melhor e, talvez, o único exercício realmente eficaz para nos fazer penetrar na intimidade dum grande espírito. Ela nos obriga a esquadrinhar atentamente o sentido de cada palavra, em suma a reconstituir a paisagem mental do nosso autor e a descobrir-lhe as intenções mais veladas” (pág. 31).

E você, por que traduz?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DÍVIDA nº 1

Ok, como estamos muito ocupados, o blog acabou ficando parado um tempo... Mas estamos de volta para quitarmos duas dívidas.

A dívida nº 1 é a resposta do “desafio do fora do lixo”, proposto lá no distante mês de agosto.

O vencedor é o Yan, nosso único participante. Ele sugeriu duas soluções e nós escolhemos a seguinte:












Fiquem atentos, pois logo lançaremos um novo desafio!

Mas antes, o próximo post deverá quitar nossa última dívida...

domingo, 18 de setembro de 2011

NOTÍCIAS

O website do jornal O Globo publicou recentemente uma série chamada “Diário de Carreira”, com reportagens sobre vários aspectos da profissão de tradutor.

Neste link, vocês podem ler a matéria mais recente, que, ao final, traz os links para todas as anteriores.

Em 4 de setembro, o suplemento “Segundo Caderno”, também do jornal O Globo, publicou uma matéria sobre o livro “Poesia Traduzida”, da Editora Cosac Naify, que traz 64 poemas traduzidos por Carlos Drummond de Andrade.


Neste link, vocês podem ler a reportagem completa, que mostra um lado muito interessante do autor mineiro (não percam, ao final, um "louvor" aos tradutores).

E na última edição do suplemento “Prosa e Verso” (mais um do jornal O Globo), há duas matérias que valem a pena ser lidas:

A primeira, “Programa de Intercâmbio”, discute os desafios para a difusão da literatura brasileira no mundo (leia aqui a versão online das matérias Obstáculos para a difusão da literatura brasileira no exterior e Brasilianistas pedem investimento em promoção da cultura nacional).

A segunda, “Clássica e Pioneira”, comenta a publicação do livro “Poesia completa de Yu Xuanji”, da Editora UNESP.


Trata-se de uma edição bilíngue chinês-português, com tradução do diplomata Ricardo Primo Portugal e sua esposa, a tradutora e intérprete Tan Xiao (leia aqui a versão online: Livro reúne obra completa de Yu Xuanji, poeta chinesa do século IX).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

RAIN CHECK

A primeira vez que ouvimos a expressão rain check foi no filme “New York, New York”, dirigido por Martin Scorsese.


Bem no início do filme, o personagem Jimmy Doyle (Robert De Niro) tenta insistentemente conquistar Francine Evans (Liza Minelli) durante uma festa. Como ele é muito impertinente, ela passa o tempo todo lhe dando vários foras, até que Jimmy desiste e diz, com arrogância:

I GIVE UP. I'LL TAKE A RAIN CHECK.
Na época, não demos muita bola para essa expressão, que foi traduzida como “Eu desisto. Vamos deixar para outra hora”.

Recentemente, porém, enquanto assistíamos ao filme “Capitão América: o Primeiro Vingador”, dirigido por Martin Campbell, reencontramos o tal rain check

(Poster "vintage" criado pelo artista Paolo Rivera)

Para salvar Nova York da destruição, o personagem Steve Rogers (Chris Evans) precisa destruir a aeronave que está pilotando. Sem alternativas, ele se prepara para realizar um mergulho suicida e (momento emoção) se despede da mocinha Peggy Carter (Hayley Atwell):

PEGGY, WE'RE GONNA NEED A RAIN CHECK ON THAT DANCE.






















Desta vez, ficamos curiosos e decidimos pesquisar o que significa exatamente rain check.

De acordo com o “New Dictionary of American Slang”, organizado por Robert L. Chapman (Harper & Row, 1986), rain check é, literalmente, o canhoto de ingresso que permite ao espectador assistir a outro jogo de baseball, caso o jogo ao qual ele esteja assistindo seja interrompido em razão da chuva.

Ainda conforme o “New Dictionary”, rain check também pode significar, de maneira mais abrangente, o adiamento de qualquer evento esportivo, jantar, festa, etc., com a devida promessa de que o evento ou encontro será renovado.

Para a pobre Peggy, a dança fica adiada para a seguinte data:

A WEEK, NEXT SATURDAY, AT STORK CLUB...
Já a expressão to take a rain check tem um significado mais específico: é algo que se diz quando não podemos aceitar um convite no momento, mas gostaríamos de aceitá-lo em uma data posterior (conforme o Free Dictionary e o Michaelis). Assim, no caso da cena do filme “New York, New York”, descobrimos que há uma ironia por trás da fala do convencido e insolente Jimmy Doyle, uma vez que quem deveria take the rain check seria a moça que está sendo convidada para sair!


PS: Depois que fizemos nossa pesquisa, descobrimos mais um rain check no filme “Serpico”, dirigido por Sidney Lumet! Na cena em que a enfermeira Laurie (Barbara Eda-Young) e o policial Frank Serpico (Al Pacino) se conhecem, ele a convida para tomar uma xícara de café. Laurie, no entanto, diz: I’ll have to take a rain check, I’m due at the hospital. Desta vez, não tivemos dificuldade para entender o que ela quis dizer... 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

DISEMBARKATION STARTED

O post de hoje é uma contribuição da Renata Motta, que se deparou com a seguinte informação em um aeroporto:



A princípio, rimos muito e achamos que a administração do aeroporto havia contratado um tradutor inglês-embromês! Pensamos: “E o Brasil ainda quer sediar a Copa, hein?”

Porém, a velha curiosidade logo bateu e fizemos uma rápida pesquisa...

Pois descobrimos que o substantivo disembarkation existe e significa exatamente “desembarque, descarregamento”! Além disso, são aceitas também as variações disembarkment ou debarkation, todas com esse sentido de act of passengers and crew getting off of a ship or aircraft.

Foi uma surpresa, mas ainda nos parece que a palavra mais comum para “desembarque de passageiros” é landing, não?

De qualquer forma, a gente está sempre aprendendo e são justamente as coisas mais óbvias que nos pregam uma peça... fiquem atentos!

domingo, 4 de setembro de 2011

NOTA DO TRADUTOR - R.I.P.


Como prometido no post sobre o Ciclo de Conferências na ABL, vamos fazer nossa humilde homenagem a um velho amigo moribundo conhecido como “Nota do Tradutor”.

(sobre desenho de Kurt Vonnegut Jr.)


A ideia de que a Nota do Tradutor é algo indesejável não é nova. Por exemplo, em sua “Nota sobre o texto” da recente tradução de “Viagens de Gulliver” (Penguin Classics Companhia das Letras, 2010, p. 58), Paulo Henriques Britto cita um comentário do escritor Samuel Johnson, que viveu no século 18: “As notas são amiúde necessárias, porém são males necessários. (...) Passagens específicas são esclarecidas pelas notas, mas o efeito geral da obra é enfraquecido. A mente é esfriada pela interrupção; os pensamentos são desviados do tema principal; o leitor sente cansaço, e não sabe por quê; e por fim abandona o livro, a que dedicou um excesso de diligência”.

No entanto, ainda que antiga, agora essa má fama parece ter finalmente conquistado o meio literário e se transformado em uma verdadeira sentença de morte! Já havíamos percebido que os livros publicados no Brasil nos últimos anos raramente trazem notas, seja no rodapé das páginas, seja antes ou depois do texto principal, mas essa “repulsa” pela Nota do Tradutor tornou-se mais evidente para nós durante o Ciclo de Conferências da ABL. Lá, sua “inconveniência” foi mencionada mais de uma vez, tanto por um dos tradutores palestrantes, como também pelo acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, coordenador do ciclo (estranhamente, a tradução do “Livro das Mil e Uma Noites”, feita pelo professor Mamede Jarouche e que é repleta de notas muito instrutivas, foi um dos temas do ciclo da ABL – e ninguém o criticou por usá-las...).

Enfim, não concordamos nem um pouco com isso!

Não achamos, como dizem, que a Nota do Tradutor seja uma distração aborrecida que perturba o ritmo da leitura e quebra o fluxo de raciocínio. Para começo de conversa, o leitor não é obrigado, em absoluto, a ler a Nota do Tradutor. Da maneira como seus críticos colocam, parece que, ao se deparar com a remissão a uma nota, o leitor é compulsivamente lançado para a dimensão mágica da Nota do Tradutor, de onde não consegue sair até que a tenha lido toda! Ora, só o leitor muito obsessivo vai sentir “cansaço” e “abandonar o livro”. Não quer parar para ler a nota, não para, ué!

A Nota do Tradutor é um instrumento usado para compartilhar certas informações que podem ter muitas funções: esclarecer uma passagem, indicar discrepâncias, situar histórica e socialmente o contexto, elucidar referências obscuras, mostrar a dificuldade ou impossibilidade de se traduzir um termo ou frase, ou simplesmente ilustrar algum trocadilho ou curiosidade do texto original. Isso tudo, nós acreditamos, dá ao leitor mais interessado a oportunidade de se aprofundar ainda mais no texto e, consequentemente, no pensamento do autor.

Infelizmente, há quem ache que a Nota do Tradutor não passa apenas de uma bobagem supérflua e cujo desaparecimento não fará falta a ninguém. Afinal, que diferença faz saber que a tradução mais adequada de D. Quixote seria D. Coxote, porque “quijote era a peça da armadura que cobria a coxa, cujo correspondente em português é ‘coxote’, e não a mera transliteração ‘quixote’” (“O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha: volume I”, Miguel de Cervantes, tradução de José Luis Sánchez e Carlos Nougué, Ed. Abril, 2010)? Desnecessário, não? Esse desprezo, porém, parece-nos mais um reflexo da superficialidade do conhecimento que tomou conta dessa sociedade globalizada pós-moderna super-ultra-mega informada em que vivemos. Hoje em dia, todos querem make a pint of comprehension fill up a gallon of verbiage (Ezra Pound, The ABC of Reading).

Acreditamos que a Nota do Tradutor nos ajuda a compreender o porquê das coisas – e saber o porquê das coisas é o primeiro passo para nos tornarmos seres humanos melhores. Mas olhem ao seu redor! Vocês acham que estamos nos tornando melhores? Pois é, não nos espanta que os estertores da Nota do Tradutor sejam ouvidos por toda parte...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O CAÇADOR DE CERVEJA

Muitos fatores caracterizam uma tradução de qualidade. Entre eles, a boa cultura geral do tradutor é um dos mais importantes.

Vejam essa tirinha do “Andy Capp”, criada pelo Reg Smythe (publicada no Brasil como “Zé do Boné”):

Literalmente, seria:


Mas a tradução literal, aparentemente bem simples, esconde nesse caso um “deslize” do tradutor desavisado... Acontece que o título inventado pelo bartender, The Beer Hunter, faz alusão ao título real do filme The Deer Hunter, dirigido por Michael Cimino.


Lançado em 1978, o filme recebeu no Brasil o título de “O Franco-Atirador”.


Assim, para se manter a intenção do trocadilho original, o tradutor deveria tentar algo como:

 

A simples fluência na língua a ser traduzida, como veem, até nos permite realizar uma tradução “adequada” do texto original, mas a precisão e a riqueza da adaptação, diferenciais de um trabalho de qualidade, só podem ser alcançadas pelo profissional que possui um conhecimento mais amplo a respeito da cultura e outras áreas do saber humano.

E, ainda que não tenha relação com a tradução dessa tirinha, talvez seja bom saber que The Beer Hunter também era o nome de um famoso programa transmitido em 1993 pelo Discovery Channel e apresentado pelo influente jornalista Michael Jackson (não, não era o cantor), cujo trabalho marcou a classificação moderna dos estilos de cerveja ao redor do mundo... Toda informação pode ser útil para o tradutor no futuro!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

BACK TO THE FUTURE

O contexto histórico e social influencia bastante uma tradução. Encontramos alguns exemplos interessantes disso no livro “Back to the Future: The Official Book of the Complete Movie Trilogy”, de Michael Klastorin e Sally Hibbin (Mallard Press, 1990).


Trata-se de um livro promocional, lançado na época da estreia do filme “De volta para o Futuro – Parte III”, que traz diversas informações e curiosidades sobre essa trilogia cinematográfica.

Algumas dessas curiosidades dizem respeito a problemas de tradução, em alguns países europeus, de certas passagens do primeiro filme da série.

De acordo com os autores, por exemplo, na época de lançamento do filme (1985), a TV italiana não tinha por hábito repetir a transmissão de seriados. Por isso, não havia uma palavra italiana para “reprise” (rerun). 

“What’s a rerun?” (a cena se passa em 1955 e ninguém entende do que Marty está falando!)





















Assim, enquanto o Marty McFly americano diz para a família de sua mãe que assistiu ao episódio da comédia The Honeymooners em uma “reprise”, o Marty italiano diz que assistiu ao episódio em um “videocassete”.


Outra adaptação inusitada teve a ver com o estilista Calvin Klein. Depois que Marty McFly acorda desorientado no quarto de sua mãe, ela o chama de “Calvin”. Quando Marty lhe pergunta por que ela o está chamando assim, ela responde “Mas não é esse seu nome? Calvin Klein? Está bordado em sua cueca!”. 




































No entanto, como as roupas dessa grife ainda não eram muito comuns na Itália e na Espanha, nesses países o americano Calvin Klein virou o bávaro "Levi Strauss", criador do jeans. Já na França, a opção do tradutor foi por mudar de estilista: a mãe do Marty francês o chama de "Pierre Cardin"!

domingo, 21 de agosto de 2011

DESAFIO DO FORA NO LIXO


Antes de lançarmos nosso novo desafio, vamos às respostas do “Desafio dos Portões do Cemitério”.

Infelizmente, hoje publicaremos apenas uma sugestão de gabarito, uma vez que ninguém arriscou um palpite sequer...

Desafio 1: A palavra escrita (e cantada) de forma errada é Cemetry. A forma correta seria Cemetery. Para traduzi-la, sabendo que foi escrita de maneira incorreta propositalmente pelo letrista, poderíamos, simplesmente, usar como modelo a falta da letra e após o t: “Cemitrio”. Contudo, isso vai depender do critério e/ou criatividade do tradutor. Caso o tradutor ache importante manter uma sonoridade mais próxima ao original, ou mesmo queira evitar se afastar demais da grafia correta da palavra (para não deixá-la irreconhecível), pode-se traduzi-la como “Cemétrio” ou “Cemtério”.

OBS: Apenas como curiosidade, Cemetery também foi escrita propositalmente de forma errada no título do livro Pet Sematary, escrito em 1983 pelo Stephen King.

Desafio 2: A terceira linha da terceira estrofe, “But I'm well-read, have heard them said”, é cantada da seguinte forma: “But I’ve read well and I’ve heard them said”. Elas não significam, necessariamente, a mesma coisa. “I’m well-read” traduz-se, literalmente, como “Eu sou bem instruído”, “Sou bem informado”, “Sou erudito”. Já “I’ve read well” pode ser traduzido como “Eu li bem”, “Eu li direito”.

Viram? Não estava tão difícil assim!

Para o próximo desafio, esperamos que vocês tenham menos receio de arriscar! Basta traduzir a tirinha Diamond Lil, de Brett Koth:



O desafio, claro, é traduzir/adaptar o trocadilho entre o verbo “to dump” e o substantivo “dump”.

Boa sorte!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

HEAVE-HO!

Um dos mais famosos livros japoneses, Musashi, de Eiji Yoshikawa, foi traduzido no Brasil, diretamente do japonês, por Leiko Gotoda e publicado pela editora Estação Liberdade.



Infelizmente, ainda não lemos esta tradução, que vendeu mais de 100 mil exemplares e se tornou um fenômeno editorial.

Ok, não lemos o livro, mas... vimos os filmes!

O livro de Yoshikawa já virou até história em quadrinhos (ou, antes que os fãs fiquem nervosos, virou mangá), mas a trilogia cinematográfica do diretor Hiroshi Inagaki, Samurai, talvez seja sua adaptação mais conhecida (o primeiro filme, lançado em 1954, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro).

Nós assistimos à trilogia com legendas em inglês e, como não sabemos japonês (ainda!), não temos condições de fazer qualquer comentário sobre a qualidade delas.

No entanto, durante o primeiro filme surgiu uma expressão que nos atiçou a curiosidade... Depois de ser caçado intensamente, Takezo (o futuro samurai Myiamoto Musashi) é capturado pelo monge Takuan. Levado para uma aldeia, Takezo é amarrado e içado por sobre o tronco de uma árvore.

Acontece que, enquanto os aldeões puxam a corda em que Takezo está amarrado, eles gritam algo que, na legenda em inglês, ficou assim:


Como não conhecíamos essa expressão, fomos procurá-la nos dicionários!

Heave tanto pode ser o verbo “levantar”, “erguer”, “hastear”, como também pode ser o substantivo para a própria ação de levantar (“levantamento”), erguer (“erguimento”) ou hastear (“hasteamento”) alguma coisa.

Inicialmente, descobrimos a expressão heave-ho no dicionário online Merriam Webster, que a define como uma interjection used when heaving on a rope.

Contudo, o “Novo Dicionário Barsa das Línguas Inglesa e Portuguesa – Volume 1” (Appleton-Century-Crofts, 1964) é mais específico e classifica a expressão heave ho! como um “termo náutico”, que pode ser traduzida como “Iça!”, “Puxa!” ou “Levanta ferros!”.

Confirmamos esse sentido no dicionário online Free Dictionary (a sailors' cry, as when hoisting anchor) e no “New Dictionary of American Slang” (Robert L. Chapman; Harper & Row, 1986), que afirma haver registros da expressão náutica heave and ho desde o século 16.

Agora, uma vez que os aldeões não estão em alto-mar, a solução para a tradução da legenda em inglês seria usar um bom e velho “puxem!” ou “força!”, não acham?

De qualquer forma, fica aqui o registro de uma expressão pouco conhecida que, nos EUA, também pode ser usada como uma gíria para dispensar alguém de seu emprego ou terminar um relacionamento (She gave him the old heave-ho)!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DESAFIO DOS PORTÕES DO CEMITÉRIO

Esta semana temos um desafio musical!

Mas, como de costume, vamos antes à resposta do último desafio.

Apesar de um início nada promissor, sem que ninguém arriscasse uma sugestão, o Desafio do Gato acabou recebendo três palpites corajosos!

Bom, na verdade, dois palpites (o do Yan e o da Fernanda) foram muito parecidos, mas nós acabamos nos decidindo pela sugestão da agora bicampeã Fernanda:

Para nós, era importante, se possível, manter o “MIAU” na íntegra e foi o que a Fernanda fez.

O palpite da Sabrina também foi interessante, dando um novo sentido para a tirinha, mas ficamos na dúvida se isso casaria bem com a imagem... De qualquer forma, valeu pela tentativa!

Muito bem, agora, para responder o próximo desafio, vocês devem ouvir a música Cemetry Gates, da banda pop The Smiths (tente este link do You Tube), cuja letra está transcrita logo abaixo.


Cemetry Gates


A dreaded sunny day
So I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day
So I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
While Wilde is on mine

So we go inside and we gravely read the stones
All those people all those lives
Where are they now?
With loves, and hates
And passions just like mine
They were born
And then they lived
And then they died
Which seems so unfair
And I want to cry

You say: "'ere thrice the sun hath done salutation to the dawn"
And you claim these words as your own
But I'm well-read, have heard them said
A hundred times (maybe less, maybe more)
If you must write prose/poems
The words you use should be your own
Don't plagiarise or take "on loan"
there's always someone, somewhere
With a big nose, who knows
And who trips you up and laughs
When you fall
Who'll trip you up and laugh
When you fall

You say: "ere long done do does did"
Words which could only be your own
you then produce the text
From whence was ripped
(Some dizzy whore, 1804)

A dreaded sunny day
So let's go where we're happy
And I meet you at the cemetry gates
Oh, Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day
So let's go where we're wanted
And I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
But you lose
because Wilde is on mine


Escutaram a música? Acompanharam a letra?
Então, vamos ao desafio!

Desafio 1: Nesta música, há uma palavra que é escrita (e cantada) de forma errada. O primeiro desafio é dizer que palavra é essa e como você a traduziria, sabendo que ela foi escrita de maneira incorreta propositalmente pelo letrista.

Desafio 2: A letra acima foi transcrita exatamente como consta no encarte do álbum The Queen Is Dead, de 1985. Se você acompanhou a música junto com a letra, percebeu que alguns trechos são cantados de forma ligeiramente diferente de como a letra foi escrita. O segundo desafio é traduzir a terceira linha da terceira estrofe (“But I'm well-read, have heard them said”), tanto na sua forma escrita como na sua forma cantada, e responder: elas significam a mesma coisa?

As respostas podem ser deixadas nos comentários ou enviadas diretamente para nosso e-mail.

Vence o desafio quem responder corretamente às perguntas e sugerir as melhores traduções. O vencedor terá seu momento “Good Times 98 FM” e poderá pedir uma música para ter a letra traduzida e comentada por nós aqui no blog!

Boa sorte!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

CICLO DE CONFERÊNCIAS NA ABL

A Academia Brasileira de Letras encerrou na semana passada o ciclo de conferências “Desafios da tradução literária", sob a coordenação geral do Presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça, e coordenação de Geraldo Holanda Cavalcanti. Foram quatro encontros, nos quais os conferencistas dividiram com o público suas experiências na tradução de algumas obras literárias desafiadoras.

Infelizmente, não podemos comentar a primeira palestra com a professora Andréia Guerini, que falou sobre a tradução de “O Zibaldone di Pensieri”, de Giacomo Leopardi, pois não conseguimos assisti-la.

Sobre as outras conferências, porém, podemos dizer que foram muito enriquecedoras. Apesar de nenhum dos profissionais ter abordado obras na língua inglesa, nosso idioma de trabalho, as questões levantadas estão presentes em qualquer trabalho de tradução literária.


A jornalista Rosa Freire D’Aguiar falou sobre a tradução, diretamente do francês, da obra “Os Ensaios, de Montaigne. Trata-se de um livro bem antigo, do século XVI, que já teve outras versões para o português. Segundo Rosa, seu objetivo com essa nova tradução “era levar o leitor a compartilhar o prazer de ler uma obra que permanece notavelmente moderna”. Para tanto, em vez de procurar modernizar o texto, ela tentou manter um equilíbrio entre a fidelidade ao estilo original e a sua “legibilidade”. Algumas dificuldades destacadas pela jornalista foram o francês arcaico (com forte presença do latim, formando uma escrita muito peculiar), os trocadilhos e o próprio estilo do autor, que, por exemplo, não se utilizava de parágrafos (ao contrário do que aconteceu em traduções anteriores, Rosa optou por respeitar a construção original do texto).


O professor Aleksandar Jovanovic apresentou a palestra “Da tradução como processo de transcrição: Armadilhas linguístico-culturais da intertextualidade”. Especialista em línguas eslavas e húngaro, Aleksandar falou sobre a tradução como uma forma de comunicação entre culturas. Durante sua conferência, o professor alertou para o cuidado com as traduções literais (ou ao pé da letra) e ressaltou a importância de se comparar traduções existentes. Segundo ele, a comparação ajuda o profissional a evitar erros já feitos. Além disso, Aleksandar declarou que a obrigação do tradutor é para com o leitor, isto é, o profissional deve sempre procurar manter o texto na língua de chegada o mais compreensível para o leitor.


Por fim, o professor Mamede Mustafa Jarouche comentou sobre “O desafio do tempo na tradução das Mil e Uma Noites”. O principal desafio neste trabalho, segundo Mamede, foi selecionar os textos a serem traduzidos, pois há muitas versões das histórias, e a tradução do “Livro das Mil e Uma Noites” é um verdadeiro quebra-cabeça. Tendo recebido de seu editor o aval para usar a versão que desejasse, Mamede traduziu histórias que nunca antes haviam sido editadas em português. Durante o trabalho, ele fez uso de notas de rodapé (uma prática que já não é mais tão comum hoje em dia) com o objetivo de acrescentar as diferentes versões de algumas histórias. As notas serviram também para informar o leitor a respeito dos costumes e tradições da cultura árabe, muito presentes no livro.

Todos os conferencistas chamaram atenção para a importância de se levar em conta o contexto social, político e histórico do texto a ser traduzido para prevenir traduções incorretas ou literais. Falaram também da função social e cultural da tradução, que permite que obras importantes sejam lidas por um público maior.

Se tiverem interesse em saber mais detalhes sobre as conferências, mandem e-mail para a gente ou deixem suas dúvidas nos comentários. Também vale a pena dar uma olhada nos textos "Traduzindo Os Ensaios, de Montaigne" e "Os ensaios de Michel de Montaigne" da Rosa Freire D’Aguiar, e nesta entrevista com o Mamede Mustafa Jarouche.

E fiquem ligados aqui no blog, pois logo publicaremos um post com nossos comentários sobre uma espécie em extinção conhecida como “Nota do Tradutor”. Ficamos com a clara impressão de que os imortais da ABL já decretaram definitivamente sua morte...