domingo, 18 de setembro de 2011

NOTÍCIAS

O website do jornal O Globo publicou recentemente uma série chamada “Diário de Carreira”, com reportagens sobre vários aspectos da profissão de tradutor.

Neste link, vocês podem ler a matéria mais recente, que, ao final, traz os links para todas as anteriores.

Em 4 de setembro, o suplemento “Segundo Caderno”, também do jornal O Globo, publicou uma matéria sobre o livro “Poesia Traduzida”, da Editora Cosac Naify, que traz 64 poemas traduzidos por Carlos Drummond de Andrade.


Neste link, vocês podem ler a reportagem completa, que mostra um lado muito interessante do autor mineiro (não percam, ao final, um "louvor" aos tradutores).

E na última edição do suplemento “Prosa e Verso” (mais um do jornal O Globo), há duas matérias que valem a pena ser lidas:

A primeira, “Programa de Intercâmbio”, discute os desafios para a difusão da literatura brasileira no mundo (leia aqui a versão online das matérias Obstáculos para a difusão da literatura brasileira no exterior e Brasilianistas pedem investimento em promoção da cultura nacional).

A segunda, “Clássica e Pioneira”, comenta a publicação do livro “Poesia completa de Yu Xuanji”, da Editora UNESP.


Trata-se de uma edição bilíngue chinês-português, com tradução do diplomata Ricardo Primo Portugal e sua esposa, a tradutora e intérprete Tan Xiao (leia aqui a versão online: Livro reúne obra completa de Yu Xuanji, poeta chinesa do século IX).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

RAIN CHECK

A primeira vez que ouvimos a expressão rain check foi no filme “New York, New York”, dirigido por Martin Scorsese.


Bem no início do filme, o personagem Jimmy Doyle (Robert De Niro) tenta insistentemente conquistar Francine Evans (Liza Minelli) durante uma festa. Como ele é muito impertinente, ela passa o tempo todo lhe dando vários foras, até que Jimmy desiste e diz, com arrogância:

I GIVE UP. I'LL TAKE A RAIN CHECK.
Na época, não demos muita bola para essa expressão, que foi traduzida como “Eu desisto. Vamos deixar para outra hora”.

Recentemente, porém, enquanto assistíamos ao filme “Capitão América: o Primeiro Vingador”, dirigido por Martin Campbell, reencontramos o tal rain check

(Poster "vintage" criado pelo artista Paolo Rivera)

Para salvar Nova York da destruição, o personagem Steve Rogers (Chris Evans) precisa destruir a aeronave que está pilotando. Sem alternativas, ele se prepara para realizar um mergulho suicida e (momento emoção) se despede da mocinha Peggy Carter (Hayley Atwell):

PEGGY, WE'RE GONNA NEED A RAIN CHECK ON THAT DANCE.






















Desta vez, ficamos curiosos e decidimos pesquisar o que significa exatamente rain check.

De acordo com o “New Dictionary of American Slang”, organizado por Robert L. Chapman (Harper & Row, 1986), rain check é, literalmente, o canhoto de ingresso que permite ao espectador assistir a outro jogo de baseball, caso o jogo ao qual ele esteja assistindo seja interrompido em razão da chuva.

Ainda conforme o “New Dictionary”, rain check também pode significar, de maneira mais abrangente, o adiamento de qualquer evento esportivo, jantar, festa, etc., com a devida promessa de que o evento ou encontro será renovado.

Para a pobre Peggy, a dança fica adiada para a seguinte data:

A WEEK, NEXT SATURDAY, AT STORK CLUB...
Já a expressão to take a rain check tem um significado mais específico: é algo que se diz quando não podemos aceitar um convite no momento, mas gostaríamos de aceitá-lo em uma data posterior (conforme o Free Dictionary e o Michaelis). Assim, no caso da cena do filme “New York, New York”, descobrimos que há uma ironia por trás da fala do convencido e insolente Jimmy Doyle, uma vez que quem deveria take the rain check seria a moça que está sendo convidada para sair!


PS: Depois que fizemos nossa pesquisa, descobrimos mais um rain check no filme “Serpico”, dirigido por Sidney Lumet! Na cena em que a enfermeira Laurie (Barbara Eda-Young) e o policial Frank Serpico (Al Pacino) se conhecem, ele a convida para tomar uma xícara de café. Laurie, no entanto, diz: I’ll have to take a rain check, I’m due at the hospital. Desta vez, não tivemos dificuldade para entender o que ela quis dizer... 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

DISEMBARKATION STARTED

O post de hoje é uma contribuição da Renata Motta, que se deparou com a seguinte informação em um aeroporto:



A princípio, rimos muito e achamos que a administração do aeroporto havia contratado um tradutor inglês-embromês! Pensamos: “E o Brasil ainda quer sediar a Copa, hein?”

Porém, a velha curiosidade logo bateu e fizemos uma rápida pesquisa...

Pois descobrimos que o substantivo disembarkation existe e significa exatamente “desembarque, descarregamento”! Além disso, são aceitas também as variações disembarkment ou debarkation, todas com esse sentido de act of passengers and crew getting off of a ship or aircraft.

Foi uma surpresa, mas ainda nos parece que a palavra mais comum para “desembarque de passageiros” é landing, não?

De qualquer forma, a gente está sempre aprendendo e são justamente as coisas mais óbvias que nos pregam uma peça... fiquem atentos!

domingo, 4 de setembro de 2011

NOTA DO TRADUTOR - R.I.P.


Como prometido no post sobre o Ciclo de Conferências na ABL, vamos fazer nossa humilde homenagem a um velho amigo moribundo conhecido como “Nota do Tradutor”.

(sobre desenho de Kurt Vonnegut Jr.)


A ideia de que a Nota do Tradutor é algo indesejável não é nova. Por exemplo, em sua “Nota sobre o texto” da recente tradução de “Viagens de Gulliver” (Penguin Classics Companhia das Letras, 2010, p. 58), Paulo Henriques Britto cita um comentário do escritor Samuel Johnson, que viveu no século 18: “As notas são amiúde necessárias, porém são males necessários. (...) Passagens específicas são esclarecidas pelas notas, mas o efeito geral da obra é enfraquecido. A mente é esfriada pela interrupção; os pensamentos são desviados do tema principal; o leitor sente cansaço, e não sabe por quê; e por fim abandona o livro, a que dedicou um excesso de diligência”.

No entanto, ainda que antiga, agora essa má fama parece ter finalmente conquistado o meio literário e se transformado em uma verdadeira sentença de morte! Já havíamos percebido que os livros publicados no Brasil nos últimos anos raramente trazem notas, seja no rodapé das páginas, seja antes ou depois do texto principal, mas essa “repulsa” pela Nota do Tradutor tornou-se mais evidente para nós durante o Ciclo de Conferências da ABL. Lá, sua “inconveniência” foi mencionada mais de uma vez, tanto por um dos tradutores palestrantes, como também pelo acadêmico Geraldo Holanda Cavalcanti, coordenador do ciclo (estranhamente, a tradução do “Livro das Mil e Uma Noites”, feita pelo professor Mamede Jarouche e que é repleta de notas muito instrutivas, foi um dos temas do ciclo da ABL – e ninguém o criticou por usá-las...).

Enfim, não concordamos nem um pouco com isso!

Não achamos, como dizem, que a Nota do Tradutor seja uma distração aborrecida que perturba o ritmo da leitura e quebra o fluxo de raciocínio. Para começo de conversa, o leitor não é obrigado, em absoluto, a ler a Nota do Tradutor. Da maneira como seus críticos colocam, parece que, ao se deparar com a remissão a uma nota, o leitor é compulsivamente lançado para a dimensão mágica da Nota do Tradutor, de onde não consegue sair até que a tenha lido toda! Ora, só o leitor muito obsessivo vai sentir “cansaço” e “abandonar o livro”. Não quer parar para ler a nota, não para, ué!

A Nota do Tradutor é um instrumento usado para compartilhar certas informações que podem ter muitas funções: esclarecer uma passagem, indicar discrepâncias, situar histórica e socialmente o contexto, elucidar referências obscuras, mostrar a dificuldade ou impossibilidade de se traduzir um termo ou frase, ou simplesmente ilustrar algum trocadilho ou curiosidade do texto original. Isso tudo, nós acreditamos, dá ao leitor mais interessado a oportunidade de se aprofundar ainda mais no texto e, consequentemente, no pensamento do autor.

Infelizmente, há quem ache que a Nota do Tradutor não passa apenas de uma bobagem supérflua e cujo desaparecimento não fará falta a ninguém. Afinal, que diferença faz saber que a tradução mais adequada de D. Quixote seria D. Coxote, porque “quijote era a peça da armadura que cobria a coxa, cujo correspondente em português é ‘coxote’, e não a mera transliteração ‘quixote’” (“O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha: volume I”, Miguel de Cervantes, tradução de José Luis Sánchez e Carlos Nougué, Ed. Abril, 2010)? Desnecessário, não? Esse desprezo, porém, parece-nos mais um reflexo da superficialidade do conhecimento que tomou conta dessa sociedade globalizada pós-moderna super-ultra-mega informada em que vivemos. Hoje em dia, todos querem make a pint of comprehension fill up a gallon of verbiage (Ezra Pound, The ABC of Reading).

Acreditamos que a Nota do Tradutor nos ajuda a compreender o porquê das coisas – e saber o porquê das coisas é o primeiro passo para nos tornarmos seres humanos melhores. Mas olhem ao seu redor! Vocês acham que estamos nos tornando melhores? Pois é, não nos espanta que os estertores da Nota do Tradutor sejam ouvidos por toda parte...