sexta-feira, 29 de julho de 2011

CICLO DE CONFERÊNCIAS NA ABL

A Academia Brasileira de Letras encerrou na semana passada o ciclo de conferências “Desafios da tradução literária", sob a coordenação geral do Presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça, e coordenação de Geraldo Holanda Cavalcanti. Foram quatro encontros, nos quais os conferencistas dividiram com o público suas experiências na tradução de algumas obras literárias desafiadoras.

Infelizmente, não podemos comentar a primeira palestra com a professora Andréia Guerini, que falou sobre a tradução de “O Zibaldone di Pensieri”, de Giacomo Leopardi, pois não conseguimos assisti-la.

Sobre as outras conferências, porém, podemos dizer que foram muito enriquecedoras. Apesar de nenhum dos profissionais ter abordado obras na língua inglesa, nosso idioma de trabalho, as questões levantadas estão presentes em qualquer trabalho de tradução literária.


A jornalista Rosa Freire D’Aguiar falou sobre a tradução, diretamente do francês, da obra “Os Ensaios, de Montaigne. Trata-se de um livro bem antigo, do século XVI, que já teve outras versões para o português. Segundo Rosa, seu objetivo com essa nova tradução “era levar o leitor a compartilhar o prazer de ler uma obra que permanece notavelmente moderna”. Para tanto, em vez de procurar modernizar o texto, ela tentou manter um equilíbrio entre a fidelidade ao estilo original e a sua “legibilidade”. Algumas dificuldades destacadas pela jornalista foram o francês arcaico (com forte presença do latim, formando uma escrita muito peculiar), os trocadilhos e o próprio estilo do autor, que, por exemplo, não se utilizava de parágrafos (ao contrário do que aconteceu em traduções anteriores, Rosa optou por respeitar a construção original do texto).


O professor Aleksandar Jovanovic apresentou a palestra “Da tradução como processo de transcrição: Armadilhas linguístico-culturais da intertextualidade”. Especialista em línguas eslavas e húngaro, Aleksandar falou sobre a tradução como uma forma de comunicação entre culturas. Durante sua conferência, o professor alertou para o cuidado com as traduções literais (ou ao pé da letra) e ressaltou a importância de se comparar traduções existentes. Segundo ele, a comparação ajuda o profissional a evitar erros já feitos. Além disso, Aleksandar declarou que a obrigação do tradutor é para com o leitor, isto é, o profissional deve sempre procurar manter o texto na língua de chegada o mais compreensível para o leitor.


Por fim, o professor Mamede Mustafa Jarouche comentou sobre “O desafio do tempo na tradução das Mil e Uma Noites”. O principal desafio neste trabalho, segundo Mamede, foi selecionar os textos a serem traduzidos, pois há muitas versões das histórias, e a tradução do “Livro das Mil e Uma Noites” é um verdadeiro quebra-cabeça. Tendo recebido de seu editor o aval para usar a versão que desejasse, Mamede traduziu histórias que nunca antes haviam sido editadas em português. Durante o trabalho, ele fez uso de notas de rodapé (uma prática que já não é mais tão comum hoje em dia) com o objetivo de acrescentar as diferentes versões de algumas histórias. As notas serviram também para informar o leitor a respeito dos costumes e tradições da cultura árabe, muito presentes no livro.

Todos os conferencistas chamaram atenção para a importância de se levar em conta o contexto social, político e histórico do texto a ser traduzido para prevenir traduções incorretas ou literais. Falaram também da função social e cultural da tradução, que permite que obras importantes sejam lidas por um público maior.

Se tiverem interesse em saber mais detalhes sobre as conferências, mandem e-mail para a gente ou deixem suas dúvidas nos comentários. Também vale a pena dar uma olhada nos textos "Traduzindo Os Ensaios, de Montaigne" e "Os ensaios de Michel de Montaigne" da Rosa Freire D’Aguiar, e nesta entrevista com o Mamede Mustafa Jarouche.

E fiquem ligados aqui no blog, pois logo publicaremos um post com nossos comentários sobre uma espécie em extinção conhecida como “Nota do Tradutor”. Ficamos com a clara impressão de que os imortais da ABL já decretaram definitivamente sua morte...

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