terça-feira, 28 de junho de 2011

TRADUÇÃO MACABRA

Uma das traduções mais bizarras que já encontramos foi a do livro “Dança Macabra” (Danse Macabre), de Stephen King, numa edição de 1989 da Editora Francisco Alves.


Trata-se de um livro de não-ficção em que o autor analisa o gênero "horror" em diversas mídias, tais como rádio, TV, cinema e quadrinhos, além de sua influência na cultura pop dos EUA.

Como são muitos os trechos em que achamos a tradução estranha ou errada, “Dança Macabra” deve render outros posts aqui no blog.

Por ora, vamos começar pelo índice. 
No original, o capítulo VII tem o seguinte título: "The Horror Movie as Junk Food". 
Nessa edição antiga da Francisco Alves, ele foi traduzido como: "O Filme de Horror Enquanto Comida Estragada".
Hã? Mas o que será que o autor quer dizer com isso? Que o público dos filmes de horror costuma ter intoxicação, indigestão e diarreia?

Bem, a expressão junk food, cuja tradução literal seria "comida lixo", surgiu nos anos 70 para qualificar um determinado tipo de comida pobre em nutrientes e fibras, e rica em gordura, sal, açúcar e tudo o mais que nos faz mal (mas é bom pra caramba). Exemplos de junk food seriam os Doritos e Cheetos da vida, os bolinhos Ana Maria, e praticamente tudo o que é servido no McDonald's, Burguer King, Bob's ou em outros paraísos terrestres (OBS: hoje nós somos vegetarianos, mas temos ótimas lembranças de nosso passado ignorante...). 
O termo se popularizou rapidamente nos EUA e já há muitos e muitos anos é igualmente difundido no Brasil, sendo perfeitamente compreendido no original, sem tradução. 
Por isso, já que nesse capítulo o Stephen King compara os filmes de horror a esse tipo de comida, no sentido de que teriam pouco conteúdo mas muitos outros atrativos saborosos, nós optaríamos por manter a expressão original no texto em português, ou seja, "O Filme de Horror como Junk Food".

Ficamos pensando: será que na época em que a tradução da Francisco Alves foi feita a expressão junk food não era assim tão conhecida e o tradutor acabou cometendo um deslize ao não pesquisar seu real significado e simplesmente optar por uma tradução literal (o que, nesse caso, infelizmente, tira todo o sentido da comparação pretendida pelo autor)?
A boa notícia é que na edição mais recente do livro, publicada pela Editora Objetiva, houve uma revisão da tradução original, e esse capítulo passou a se chamar "O filme de horror enquanto junk food".



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