sexta-feira, 29 de julho de 2011

CICLO DE CONFERÊNCIAS NA ABL

A Academia Brasileira de Letras encerrou na semana passada o ciclo de conferências “Desafios da tradução literária", sob a coordenação geral do Presidente da ABL, Marcos Vinicios Vilaça, e coordenação de Geraldo Holanda Cavalcanti. Foram quatro encontros, nos quais os conferencistas dividiram com o público suas experiências na tradução de algumas obras literárias desafiadoras.

Infelizmente, não podemos comentar a primeira palestra com a professora Andréia Guerini, que falou sobre a tradução de “O Zibaldone di Pensieri”, de Giacomo Leopardi, pois não conseguimos assisti-la.

Sobre as outras conferências, porém, podemos dizer que foram muito enriquecedoras. Apesar de nenhum dos profissionais ter abordado obras na língua inglesa, nosso idioma de trabalho, as questões levantadas estão presentes em qualquer trabalho de tradução literária.


A jornalista Rosa Freire D’Aguiar falou sobre a tradução, diretamente do francês, da obra “Os Ensaios, de Montaigne. Trata-se de um livro bem antigo, do século XVI, que já teve outras versões para o português. Segundo Rosa, seu objetivo com essa nova tradução “era levar o leitor a compartilhar o prazer de ler uma obra que permanece notavelmente moderna”. Para tanto, em vez de procurar modernizar o texto, ela tentou manter um equilíbrio entre a fidelidade ao estilo original e a sua “legibilidade”. Algumas dificuldades destacadas pela jornalista foram o francês arcaico (com forte presença do latim, formando uma escrita muito peculiar), os trocadilhos e o próprio estilo do autor, que, por exemplo, não se utilizava de parágrafos (ao contrário do que aconteceu em traduções anteriores, Rosa optou por respeitar a construção original do texto).


O professor Aleksandar Jovanovic apresentou a palestra “Da tradução como processo de transcrição: Armadilhas linguístico-culturais da intertextualidade”. Especialista em línguas eslavas e húngaro, Aleksandar falou sobre a tradução como uma forma de comunicação entre culturas. Durante sua conferência, o professor alertou para o cuidado com as traduções literais (ou ao pé da letra) e ressaltou a importância de se comparar traduções existentes. Segundo ele, a comparação ajuda o profissional a evitar erros já feitos. Além disso, Aleksandar declarou que a obrigação do tradutor é para com o leitor, isto é, o profissional deve sempre procurar manter o texto na língua de chegada o mais compreensível para o leitor.


Por fim, o professor Mamede Mustafa Jarouche comentou sobre “O desafio do tempo na tradução das Mil e Uma Noites”. O principal desafio neste trabalho, segundo Mamede, foi selecionar os textos a serem traduzidos, pois há muitas versões das histórias, e a tradução do “Livro das Mil e Uma Noites” é um verdadeiro quebra-cabeça. Tendo recebido de seu editor o aval para usar a versão que desejasse, Mamede traduziu histórias que nunca antes haviam sido editadas em português. Durante o trabalho, ele fez uso de notas de rodapé (uma prática que já não é mais tão comum hoje em dia) com o objetivo de acrescentar as diferentes versões de algumas histórias. As notas serviram também para informar o leitor a respeito dos costumes e tradições da cultura árabe, muito presentes no livro.

Todos os conferencistas chamaram atenção para a importância de se levar em conta o contexto social, político e histórico do texto a ser traduzido para prevenir traduções incorretas ou literais. Falaram também da função social e cultural da tradução, que permite que obras importantes sejam lidas por um público maior.

Se tiverem interesse em saber mais detalhes sobre as conferências, mandem e-mail para a gente ou deixem suas dúvidas nos comentários. Também vale a pena dar uma olhada nos textos "Traduzindo Os Ensaios, de Montaigne" e "Os ensaios de Michel de Montaigne" da Rosa Freire D’Aguiar, e nesta entrevista com o Mamede Mustafa Jarouche.

E fiquem ligados aqui no blog, pois logo publicaremos um post com nossos comentários sobre uma espécie em extinção conhecida como “Nota do Tradutor”. Ficamos com a clara impressão de que os imortais da ABL já decretaram definitivamente sua morte...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A CAÇADA ENLATADA

Em seu livro Introduction to Animal Rights – Your Child or the Dog? (“Introdução ao Direito dos Animais – Seu Filho ou o Cachorro?”, publicado em 2000 pela Temple University Press), o professor norte-americano Gary Francione defende que nossa sociedade sofre de uma “esquizofrenia moral” (moral schizophrenia) no que diz respeito à maneira como tratamos os animais.


Segundo Francione, nosso discurso sobre acreditarmos ser moralmente errado infligir sofrimento “desnecessário” aos animais não corresponde à maneira como realmente agimos em relação a eles, causando-lhes incríveis quantidades de sofrimento que, sob nenhum aspecto, podem realmente ser considerados “necessários”.

No Capítulo 1, The Diagnosis: Our Moral Schizophrenia about Animals, o autor menciona numerosas formas de exploração e sofrimento a que submetemos os animais, entre elas a Canned Hunt.

Muito comum na África do Sul e nos EUA (o ex-vice-presidente Dick Cheney é um praticante assíduo), a Canned Hunt é uma forma de “caça esportiva” em que um animal (normalmente criado em cativeiro e acostumado a conviver com pessoas) é solto em um local cercado e passa a ser “caçado” por um sujeito rico e desocupado que pagou uma fortuna para se sentir muito másculo.

Dois significados do termo canned são pertinentes aqui:

1 – Literalmente, canned é algo “enlatado”, como em canned meat (carne enlatada) ou canned-goods (conservas). Pode ter o sentido de algo que foi preparado de antemão ou de algo artificial, como, por exemplo, na expressão canned laughter, que corresponde àquelas risadas gravadas usadas em programas humorísticos.

2 – É, ainda, uma gíria americana para “estar enclausurado”, “confinado”, “encarcerado”, “aprisionado” (can = prisão).

A Canned Hunt, assim, tanto pode ser traduzida como “caçada confinada”, uma vez que ocorre dentro de um perímetro em que o pobre animal é mantido, sem qualquer possibilidade de fuga (não à toa, anuncia-se aos clientes uma guaranteed kill), como também pode ser uma “caçada enlatada”, ou seja, uma caçada “artificial”, preparada, que se utiliza de um animal amansado (em oposição à caçada “real”, na qual é “concedida” ao animal selvagem uma fair chase – uma “perseguição justa”, com posssibilidade de fuga).

De qualquer forma, independente de sua tradução, a canned hunt (ou qualquer tipo de hunt), continua sendo uma tremenda babaquice... Certo mesmo estava o “libertino” poeta John Wilmot, Conde de Rochester, que escreveu em 1679 os seguintes versos:

Were I (who to my cost already am
One of those strange, prodigious Creatures, Man),
A Spirit, free to choose for my own share
What sort of Flesh and Blood I pleas’d to wear,
I’d be a Dog, a Monkey, or Bear,
Or anything but that vain Animal,
Who is so proud of being Rational.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

AMY WENT BACK TO BLACK

No sábado, dia 23/07/11, a cantora inglesa Amy Winehouse partiu dessa para uma melhor.

Para alguns, o que realmente chamava atenção era sua vida repleta de escândalos e de polêmicas relativas a abuso de “substâncias” e episódios de violência (perdemos a conta de quantas vezes ela foi presa por bater em alguém ou por posse de drogas).

Para outros, porém, Amy se destacou por sua voz, fazendo lembrar as grandes divas do jazz.

Há quem afirme que o talento dela não era essa _______ (insira aqui o nome de sua marca de geladeira ou refrigerante a base de cola preferidos) toda, mas, como o assunto principal deste blog é tradução, vamos ao que realmente interessa:

Assim que a morte de Amy foi anunciada, todos os canais de televisão passaram a transmitir suas respectivas “homenagens”. Clipes, shows, documentários, entrevistas com ela, com o pai, o cachorro, enfim, todo o pacotão a que estamos acostumados quando alguma celebridade morre. Entre esses programas, foi exibido o show de 2007 no Shepherd’s Bush Empire, em Londres (vocês encontram esse show no DVD I told you I was trouble, distribuído pela Universal Music). As músicas tinham legendas e uma tradução nos chamou a atenção durante o hit Back to Black:


We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to
Black, black, black, black
Black, black, black...
I go back to
I go back to

Para o trecho You go back to her/And I go back to black, a legenda trazia o seguinte: “Você volta para ela e eu volto pro breu”.  


Na hora ficamos pensando se “breu” seria a palavra mais adequada para transmitir a ideia de um lugar para onde vai uma mulher que foi largada pelo amante ou trocada por outra. Mas, pesquisando em alguns dicionários de português, notamos que nenhum dos significados de “breu” tem qualquer relação com a letra da música.

Na verdade, a expressão back to black tem mais um sentido de voltar para um lugar de tristeza, algo como entrar numa fossa, numa depressão ou em um luto (no caso, pelo fim de um relacionamento). Ela quis dizer que foi para um black place, isto é, um lugar sombrio, triste, dentro de si mesma (e não para um "breu"!).

Curiosamente, o cantor Neil Young gravou em 1979 uma música chamada Hey Hey My My onde usou o termo black para falar da “escuridão”, do “nada”, ou seja, da "morte" (and once you're gone, you can't come back / when you're out of the blue and into the black). 

Nesse sentido, até podemos dizer que agora a Amy foi realmente back to black...

(Assista neste link a uma versão ao vivo de Back to Black)

domingo, 24 de julho de 2011

CONCURSO PARA TRADUTORES

Estão abertas, até 07/08/11, as inscrições para o concurso público para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva em cargos de nível superior e de nível médio da EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO (EBC).

Haverá cadastro de reserva para o cargo de analista de empresa de comunicação pública – atividade: tradução (inglês ou espanhol), para os graduados de nível superior em Letras com habilitação em Inglês ou Espanhol.

O salário inicial é de R$ 2.843,00, com carga horária de 36 horas semanais.

O edital completo pode ser lido neste link do site da CESPE/UnB, instituição organizadora do concurso.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

THE TINGLER!

Os pôsteres de cinema, além da imagem e do nome do filme, costumam trazer uma tagline, ou seja, uma frase de impacto que pretende passar para o público-alvo, de maneira sucinta, informações sobre o gênero e/ou história do filme, ao mesmo tempo em que procura despertar o interesse em assisti-lo.

O pôster comentado a seguir é de 1959. Trata-se do filme The Tingler, que no Brasil se chamou “Força Diabólica”.


A taglinewhen the screen screams you’ll scream too” brinca com os sons quase idênticos de “screen” e “scream”. A fim de manter o jogo de palavras, o tradutor poderia tentar algo mais ou menos como “Quando a tela gelar, você gelará com ela” (ou, exagerando um pouco, “Quando a tela gela, você gela com ela”).

Contudo, o ato de “gritar” (scream) é essencial não apenas para a trama do filme (uma vez que o monstro Tingler pode ser derrotado através de gritos), mas também para a promoção do “mais novo e surpreendente gimmick nas telas”: PERCEPTO!

O gimmick é um “truque”, “esquema” ou “segredo” usado em um jogo ou na promoção de um produto. Neste caso, porém, o termo gimmick também significa um dispositivo real, o “Percepto”, usado durante a projeção do filme.

O diretor William Castle era famoso por utilizar gimmicks na promoção de seus filmes. Para The Tingler (literalmente, “formigador”, pois o monstro causa na espinha dorsal de suas vítimas uma tingling sensation, isto é, uma “sensação de formigamento”), uma série de motores foi instalada embaixo das poltronas dos principais cinemas que o exibiam.

No “prólogo” do filme, Castle surge na tela...


...e explica que a qualquer momento em que o espectador estiver consciente de uma “tingling sensation”, o alívio poderá ser obtido através de um grito. “Não tenha vergonha de abrir sua boca e gritar a plenos pulmões (letting rip with all you've got)”, o diretor diz, “porque a pessoa ao seu lado provavelmente estará gritando também. E lembre-se disto: um grito no momento certo pode salvar sua vida!”

E eis que, no clímax da história, o Tingler foge para um cinema, invade a sala de projeção e faz com que o filme pare. O monstro, então, surge na tela...


...e todas as luzes do cinema (tanto o de mentira quanto o verdadeiro em que The Tingler está sendo exibido) se apagam, a tela fica completamente escura e a voz do astro do filme, Vincent Price, surge nos alto-falantes incitando as pessoas a gritarem por suas vidas, a fim de derrotar o monstro!

O “Percepto” era acionado neste momento. Os motores vibravam nas poltronas e provocavam no pobre espectador uma tingling sensation, com o propósito de causar pânico no cinema!

Por tudo isso, percebam como é importante manter na tradução desta tagline a referência aos gritos (“Quando a tela gritar, você gritará também... se dá valor à sua vida!”), ainda que o jogo de palavras se perca, sob o risco de anularmos a intenção e, consequentemente, o impacto da propaganda.

Ficaram curiosos sobre o diretor William Castle e seus criativos gimmicks? Procurem na internet o documentário de 2007 Spine Tingler! The William Castle Story (vejam trechos neste link do You Tube).

terça-feira, 19 de julho de 2011

A SENTINELA NO CAMPO DE CENTEIO

A versão brasileira do livro The Catcher in the Rye é célebre por sua qualidade e criatividade.

Também célebre é a confusão a respeito da tradução de seu título, como indica uma pequena “nota da editora” no início do livro:


Para saber mais sobre como os tradutores Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster chegaram ao título “A Sentinela do Abismo”, sobre a implicância de J. D. Salinger com esta solução, e sobre outras traduções para The Catcher in the Rye, leia neste link o artigo escrito por um daqueles “jovens diplomatas”.

E, só por curiosidade: há alguns anos, encontramos em um sebo um exemplar da 4ª edição do “Apanhador”.


Nele, apesar da “nota da editora” sobre a divergência na tradução do título, não há, no corpo do texto, nem sinal de um “apanhador no campo de centeio” – Holden Caulfield era apenas “o sentinela do abismo e tudo”!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

TRADUÇÃO MACABRA - PARTE 2

Seguimos com os comentários sobre a tradução, publicada em 1989 pela Editora Francisco Alves, do livro Danse Macabre, do Stephen King (dê uma conferida no post anterior).

No capítulo VIII, “The Glass Teat, or, This Monster Was Brought to You by Gainesburgers, o autor discute vários programas de TV que marcaram o gênero “horror”, como, por exemplo, os seriados The Outer Limits e The Twilight Zone (“Quinta Dimensão” e “Além da Imaginação”, respectivamente, no Brasil).

Este último foi criado pelo escritor/roteirista Rod Serling, que, antes de Twilight Zone, já era muito famoso nos EUA. Ele havia escrito os roteiros de três teleplays (teleteatros) que marcaram a Golden Age (Era de Ouro) da TV americana: Patterns (exibido na TV em 1955, com uma versão para os cinemas lançada no ano seguinte), Requiem for a Heavyweight (exibido em 1956, com uma versão para os cinemas lançada em 1962) e The Comedian (exibido na TV em 1957).

A tradução da Francisco Alves optou por manter os títulos desses programas no original, com exceção de Requiem for a Heavyweight, que foi traduzido como “Requiém para um Obeso”:


Bom, se você não conhece o filme Requiem for a Heavyweight e não achou nenhuma grosseria na referência a “obeso”, essa tradução provavelmente não significa nada para você. Porém, uma pulga talvez surja atrás de sua orelha quando, alguns parágrafos adiante, encontrar o título do filme no contexto da seguinte frase:


Ainda assim, caso esteja muito distraído, você pode achar que o tal “lutador” fica tão gordo ao longo do filme que, por falta de condições físicas, é obrigado a recorrer a lutas arranjadas...

Nada disso! O problema é que o protagonista da história é, na verdade, um lutador de boxe da categoria heavyweight, ou seja, peso-pesado! Não há qualquer referência a um “obeso” em todo o filme (ainda que a versão para os cinemas tenha no elenco Jackie Gleason, que era um sujeito bem gorducho)!

A edição brasileira mais recente de “Dança Macabra”, com tradução revisada, publicada pela Editora Objetiva, tenta consertar um pouco as coisas e traduz Requiem for a Heavyweight como “Réquiem para um peso-pesado”. De qualquer forma, isso ainda parece ser um empréstimo do título do filme na Argentina, Requien para un peso pesado. No Brasil, o longa-metragem de 1962 se chamou “Réquiem por um Lutador” e está disponível em DVD distribuído pela Sony Pictures:


Infelizmente, o leitor interessado em assistir ao filme citado no livro do Stephen King, mas que use estas traduções como referência, pode ter sérias dificuldades para encontrá-lo. Isto porque houve uma falha na (ou falta de?) pesquisa sobre o nome correto com que o filme foi lançado no país, um cuidado básico que todos os tradutores devem ter, não só para filmes, como também livros, peças, etc. Os leitores agradecem.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

DESAFIO DO GATO

Esta semana temos um novo desafio!

Mas antes vamos à resposta do “Desafio da Ilha da Sobremesa”.

A vencedora do desafio, Fernanda Villar, também foi a única destemida a arriscar uma tradução! Na verdade, ela sugeriu não uma, mas duas soluções para o problema! Parabéns, Fernanda!

Para publicar aqui no blog, escolhemos a que nos pareceu mais divertida e que casava melhor com a imagem (para saber qual foi a outra sugestão, basta dar uma olhada nos comentários do post de 29/06):




Notem que a piada original não precisava de uma explicação no texto, era uma combinação entre texto e imagem. Nós bem que tentamos adaptar a sugestão da Fernanda nesse sentido, deixando somente a referência ao coqueiro torto. Mas daí mostramos o quadrinho a algumas pessoas que não conheciam o texto original, para ver se elas sacavam... e não funcionou. Por isso, optamos por manter o trecho “e não torta de coco”.


Muito bem, o próximo desafio está na tirinha “Mutt & Jeff”, do Bud Fisher:

O desafio aqui é traduzir o primeiro quadrinho, sabendo que a intenção do autor foi misturar a expressão let me out (deixe-me sair) com o miado do gato (meow).

Lembrem-se de que não há uma única resposta certa, tudo depende da ousadia e criatividade do tradutor!

A melhor solução sugerida será publicada aqui no blog, com o devido crédito ao autor!
Participem e boa sorte!

domingo, 10 de julho de 2011

PEANUTS

Desde 2009 a L&PM Editores vem publicando os livros da série “Peanuts Completo: a coleção definitiva da obra-prima em quadrinhos de Charles M. Schulz”.

Peanuts é a mais famosa e, quem sabe, melhor tirinha de todos os tempos. Charlie Brown, Snoopy, Woodstock, Linus (e seu cobertor), Lucy, Schroeder (e seu piano), Patty Pimentinha, Marcie, Franklin, Chiqueirinho (Pig-Pen no original), Sally... Todos os personagens são inesquecíveis, até mesmo aqueles que nunca aparecem, como a Menina Ruiva ou a Grande Abóbora.

Seu criador, o gênio Charles M. Schulz, desenhou cada uma das 17.897 tiras durante os 50 anos em que elas foram publicadas, e morreu em 12 de fevereiro de 2000, isto é, na véspera do dia em que a última tirinha foi publicada!

A tirinha a seguir está no segundo livro da coleção da L&PM, que cobre o biênio de 1953 a 1954. A tradução é de Alexandre Boide e a tirinha, de junho de 1954, está na página 226:

O que chama a atenção é o fato de ser uma das raras tirinhas dos Peanuts em que vimos alguma expressão em inglês sendo mantida. No caso, Lucy canta a letra de “Blue Suede Shoes” de maneira errada: Won (one) four (for) the money, too (two) fore (for) the show, three two (to) get ready, and for two go (now go, cat, go).

Caso quiséssemos traduzir os três primeiros quadrinhos, teríamos dois problemas:

1º problema: A música, uma gravação muito famosa de Elvis Presley, teria que ser substituída por outra cuja letra fosse imediatamente reconhecida pelo público brasileiro. A solução talvez pudesse estar em substituí-la por uma canção infantil, do tipo “Atirei o Pau no Gato”, ou quem sabe usar clássicos como “Emoções” do Roberto Carlos (o equivalente do Elvis no Brasil?) ou “Garota de Ipanema”, do Tom e Vinicius.

2º problema: O humor infantil da piada vem justamente do fato de que, por causa da homofonia de algumas palavras, a Lucy escuta corretamente a palavra cantada, mas pensa em uma outra (e assim, claro, não entende nada da letra). Nós bem que tentamos encontrar palavras homófonas em “Garota de Ipanema” ou em “Atirei o Pau no Gato”, mas falhamos miseravelmente.

Manter o texto no original, neste caso, provavelmente foi uma decisão muito sábia: ainda que o leitor da tirinha não saiba inglês, a piada continua funcionando, já que, como a Lucy, não vai entender nada da letra...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

OPORTUNIDADE PARA TRADUTORES

Foi publicado hoje, no Diário Oficial da União, o edital do “Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior”, da Fundação Biblioteca Nacional.

Serão oferecidas bolsas de apoio à tradução e publicação de obras de autores (as) brasileiros (as) às editoras estrangeiras que desejarem traduzir, publicar e distribuir, no exterior, livros impressos previamente editados no Brasil em português.

Essa é uma excelente oportunidade para todos os tradutores. Contudo, parece que os contatos deverão ser feitos diretamente com as editoras estrangeiras.

De acordo com o edital, a editora interessada em inscrever-se no programa deverá enviar à Fundação Biblioteca Nacional uma série de documentos, incluindo o currículo do tradutor contratado (em português) e uma cópia do contrato de tradução da obra feito pela editora com o tradutor encarregado de fazer a respectiva tradução. O currículo do tradutor será ainda um dos critérios de seleção dos projetos encaminhados ao programa.

Leiam a íntegra do edital aqui.

O Programa foi lançado pelo Ministério da Cultura na 9ª Festa Literária de Paraty (FLIP). Vocês podem ler as reportagens sobre o lançamento do Programa nos links do jornal O Globo, do jornal Zero Hora e da página da Fundação Biblioteca Nacional

terça-feira, 5 de julho de 2011

HEMINGWAY E O SHERIFF

Há uma coluna no suplemento “Segundo Caderno” do jornal O Globo chamada “Há 50 anos”. Nela, são publicados trechos de notícias importantes ou pitorescas que, como o nome da coluna sugere, foram manchete há cinquenta anos.

No último domingo foi publicada a manchete “ERNEST HEMINGWAY MATOU-SE ACIDENTALMENTE COM UM TIRO”. Leiam a manchete e prestem atenção no cargo ocupado por um tal de Frank Hewett:


Pois é, há apenas cinquenta anos o hoje muito comum “xerife” ainda era um sheriff. Acontece que não há no Brasil uma figura equivalente ao sheriff americano, o mais próximo talvez seja o delegado de polícia... Quando será que o sheriff se tornou tão corrente a ponto de merecer um aportuguesamento? Será que os filmes e seriados de TV de faroeste (far west) ajudaram?
Atualmente, contudo, o aportuguesamento de palavras estrangeiras parece estar em ritmo acelerado, principalmente em razão da intensidade com que a tecnologia entrou em nossas vidas. A 5ª edição do dicionário Aurélio, por exemplo, já traz os verbetes “blogar” e “tuitar”. Mas... cuidado! Na hora de traduzir, é melhor não nos empolgarmos demais ou corremos o risco de escrever bizarrices como a que lemos outro dia: o sujeito não ia “começar” ou “iniciar”, mas sim startar um projeto... 

E só para concluir o caso de nosso estimado escritor “extinto”, famoso por “seus livros sobre morte e violência”, vejam a notícia que foi publicada no dia seguinte:


Infelizmente, esse Jorge Ros estava coberto de razão, Hemingway realmente cometeu suicídio. Mas acredita-se que uma série de fatores, além do câncer, levaram-no a dar um tiro na cabeça. O autor de “O Velho e o Mar” também sofria de depressão, alcoolismo, perda de visão e paranoia (foi inclusive submetido a terapia com eletrochoques nas tais “Clínicas Mayo”).
A versão oficial do “acidente”, contudo, foi sustentada por cinco anos, até que sua viúva finalmente admitiu publicamente o suicídio.

Assim, em homenagem ao ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, uma pequena oração para vocês traduzirem:

Our nada who art in nada, nada be thy name thy kingdom nada thy will be nada in nada as it is in nada. Give us this nada our daily nada and nada us our nada as we nada our nadas and nada us not into nada but deliver us from nada; pues nada. Hail nothing full of nothing, nothing is with thee.”

 Do conto A clean, well-lightened place,
escrito por Ernest Hemingway,
publicado em 1926.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

DUAS DICAS

Ontem, dia 03/07/11, foi publicada no suplemento "Revista da TV" do jornal O Globo uma reportagem sobre tradução. São entrevistas com tradutoras que fazem as legendas de algumas séries de TV, como "House" e "Law and Order: SVU". A reportagem é muito legal e mostra a rotina de quem trabalha com esses seriados tão cheios de termos técnicos.
Você pode ler a versão online da reportagem aqui.


Outra dica é o ciclo de conferências "Desafios da tradução literária", que será realizado na Academia Brasileira de Letras durante o mês de julho. As palestras acontecem nos dias 05, 12 e 19, e a entrada é franca. A palestra de amanhã começa às 17h30. A ABL fica na Av. Presidente Wilson, 203, Castelo, no Rio de Janeiro, mas quem não mora no Rio ou não puder ir até lá, pode acompanhar pelo site da ABL, que fará a transmissão ao vivo. Mais detalhes sobre os palestrantes e os temas abordados, clique aqui.


domingo, 3 de julho de 2011

CISNE NEGRO

Acabamos de assistir ao filme CISNE NEGRO (Black Swan), do diretor Darren Aronofsky.




O filme é muito bom, tem um clima assustador, figurino sensacional, música ótima e boas interpretações. Mas o que também nos chamou a atenção foi a qualidade das legendas em português do DVD, distribuído pela Fox. Elas não são sucintas demais (vocês sabem, quando o sujeito diz "Good Morning! How are you?" e a legenda mostra "Oi") e são bastante fiéis às gírias, locuções e expressões idiomáticas. 

Uma coisa interessante foi a ausência de palavrões nas legendas. Por exemplo, em uma cena "fucking little whore" ficou "vagabundinha", e em outra "would you fuck that girl?" virou "transaria essa garota?". Sabemos que é política de algumas empresas de legendagem não fazer uso de palavrões, mas às vezes dá a impressão de que a intensidade da cena ou a intenção dos personagens se perde um pouco com a falta do palavrão, suavizando demais o contexto...

Em relação às opções do tradutor, só uma cena despertou nossa curiosidade:




A expressão spruce up, significa, literalmente, "enfeitar-se", "arrumar-se", "ficar mais bonita". Nesta cena, a Mila Kunis está perguntando para a Natalie Portman alguma coisa do tipo "Quer dar uma incrementada no visual?". Suas segundas intenções são sugeridas apenas visualmente, tanto pela peça de roupa oferecida como pela expressão maliciosa da personagem.
O tradutor do DVD, contudo, em vez de deixar a insinuação apenas por conta da imagem, optou por colocar tudo em palavras, inclusive mencionando o tal "colete" em uma pergunta adicional. 
De qualquer forma, o importante é que logo em seguida as coisas esquentam bastante entre a Mila e a Natalie, e a gente nem se liga mais nas legendas...